Devido ao facto da
Matilde ser um ser passivo, em termos de interacção, ainda só tem 1 mês,
não temos muito mais que fazer do que passar o dia a olhar para a cara dela (e
rezar que não comece a berrar). Isto causa uma espécie de Síndrome de
Estocolmo, aquele fenómeno em que nos sentimos atraídos pelo nosso raptor.
A verdade é que estamos constantemente a olhar para todos os pormenores
da cara, até ao ponto que passamos a considerá-la uma rara maravilha da
humanidade que, passamos a fotografar e partilhar fotografias com todas as
pessoas com que nos cruzamos. Eu próprio luto muitas vezes contra essa
compulsão. É como se o entusiasmo que alguém sente por ter conseguido criar um
ser humano tivesse de ser reconhecido pelas outras pessoas. As
outras pessoas que não vão ver mais do que um bebé como outros, um serzito de
cabeça grande e feições iguais a todos os outros. Mas há quem consiga tirar
feições e aqui a coisa abona a meu favor. É a cara chapada do pai, dizem elas, as pessoas. A verdade é que ter filhos é cansativo. Há sempre coisas para fazer, para
arrumar, para limpar. E quando acabam as coisas para fazer, há mais coisas para fazer.
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